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Cerveja Extrema: Entenda este conceito

No início deste ano me chamaram pra falar sobre mulheres e cerveja extrema em um festival de cerveja artesanal.

Achei a ideia fantástica e me dispus na hora! Desde então, adoro ler e falar sobre o assunto.

Na hora que citamos esse termo “cerveja extrema”, o público, em geral, relaciona diretamente com o alto teor alcoólico de alguns rótulos.

Sim. Também. Mas não apenas.

O que é cerveja extrema, então?

Eu entendo cerveja extrema como aquela que foge a um padrão costumaz, que tira o consumidor do lugar comum.

Mas isso depende muito da cultura local, também.

Por exemplo: pro line up do festival, escolhi a JabutiGose, uma sour colaborativa da Way Beer, Dogma e Dum.

O motivo?

Ainda que as sours tenham se tornado tendência nos últimos anos, por aqui (sugerindo até um novo estilo de cerveja_atenção: a polêmica é minha e eu a coloco onde bem quiser!_ a Catharina Sour), a maior parte do público consumidor ainda não conhece o estilo e nem se imagina tomando uma cerveja salgada (com adição de sal marinho da região de Mossoró).

Outro tipo de cerveja que considero extremo e que passa longe de ter um alto teor alcoólico: as milk beers, adoçadas com lactose, um açúcar não fermentável.

A lactose é de origem animal e carrega toda a qualidade e “culpa”do uso de ingrediente animal em uma cerveja, não sendo aceita por veganos e, no Brasil, não podendo ser classificada como cerveja, mas como bebida mista à base de cerveja, já que a legislação brasileira não permite o uso de ingredientes de origem animal em cervejas.

Um exemplo é a Teta, uma Milk Brown Ale da Cervejaria Urbana.

Até a cerveja Appia, da Colorado, entra nessa classificação brasileira de “não-cervejas”, por conter ingrediente de origem animal (no caso, mel de abelha).

Cerveja Extrema: E o teor alcoólico?

Mas já que o maior interesse vem mesmo sobre o teor alcoólico da cerveja, vamos a ele.

Reza a lenda que um aprendiz de mestre cervejeiro (em outra versão, um monge) esqueceu alguns barris de Doppelbock dormindo do lado de fora da cervejaria, durante o rigoroso inverno alemão.

Parte do conteúdo congelou, mas o líquido restante pareceu-lhe bem agradável por causa do sabor que ficou concentrado.

Eis o estilo Eisbock!

E a título de curiosidade, para que se possa utilizar esse processo de congelamento em uma cervejaria, que nada mais é que uma forma de destilação, exige-se que o responsável tenha uma licença especial (na verdade eu não consegui esclarecer ou comprovar este fato).

Mas afinal, Eisbock é uma cerveja extrema?

Pense comigo: quem, em sã consciência, congelaria sua própria cerveja?

Sabia que para cada litro de Doppelbock (a cerveja originária) congelada você só consegue extrair em torno de 65ml de Eisbock?

Então, ou você é extremamente curioso e ou extremamente desligado…

Causo ocorrido e confirmado, contado pra mim (e mais uns 500): diz que o antigo mestre-cervejeiro de uma cervejaria bastante premiada lá pela cidade de Blumenau aprontou uma dessas.

Inverno brasileiro, grupinho de amigos fazendo cerveja, pegaram o barrilzinho encostado pra bebericar, saíram engatinhando do galpão.

Eis a primeira Eisbock catarinense do mundo! Essa história foi confirmada pelo irmão do cervejeiro, um barbudo bem relacionado no meio que não teria por que mentir! Rá!

O Mercado das Cervejas Extremas

Esse mundo da cerveja extrema tem público consumidor?

Estão aí as Imperais (como a excepcional RIS Petroleum, da DUM), as doubles (como a sensacional double IPA Vaca das Galáxias, da cervejaria Seasons) pra provar que vieram pra ficar.

Mas sempre existem aqueles que querem mais… E com o bom espírito competidor, entram numa frenética corrida alcoólica e técnica que, sinceramente, não consigo acompanhar (por questões de gosto e bolso).

Parece que a briga para obter a cerveja mais alcoólica do mundo começou em 2009, quando a cervejaria alemã Schorschbock produziu uma pedrada de 31% ABV para desbancar a Utopias, da americana Samuel Adams (27%), que reinava absoluta há anos.

Daí veio a escocesa BrewDog lançando a “Tactical Nuclear Penguin” (32%).

Então, a empresa alemã Schorschbräu entrou na briga (ou brincadeira?) com a “Schorschbock”(40%). E não ficou por aí…

Eu tô quase bêbada só de ler sobre o assunto!

Encontrei várias listas dessas cervejas e inúmeras listas da ordem cronológica de seus respectivos lançamentos. A lista que me pareceu mais informativa e levemente lúcida foi retirada (na íntegra) do portal Manual do Homem Moderno. Foi a seguinte:

10º BALADIN ESPRIT DE NOEL 40% BELGIAN STRONG ALE

A Esprit De Nöel Baladin ou “Christmas Spirit” é declarada pela cervejaria italiana Baladin como um Destilado de Cerveja. Ela é envelhecida em barris de carvalho (safra de 2011 ficou por 3 anos nos barris) e conquistou a si um sabor amadeirado característico.

9º BREWDOG SINK THE BISMARCK 41%  IMPERIAL/DOUBLE IPA

Esta quadrupel IPA foi elaborada como parte de uma batalha da BrewDog para derrubar a Schorschbräu do posto de cerveja mais forte do mundo. O nome da cerveja é uma óbvia referência ao naufrágio do navio de guerra alemão, e foi escolhido porque no momento em que foi produzido ele derrubou uma cerveja alemã que era a mais forte do mundo.

8º SCHORSCHBRÄU SCHORSCHBOCK 43% EISBOCK

A Schorschbock foi criada na batalha com BrewDog, para tomar o posto da Bismarck. Esta Eisbock possui notas de frutas intensa e álcool suficiente para derrubar Shaquille O’Neal.

7º KOELSCHIP OBILIX 45% EISBOCK

Essa cerveja Eisbock foi criada para tomar o lugar da BrewDog Sink The Bismarck. Como os fabricantes mesmo revelaram: “Essa cerveja foi uma brincadeira. Sabíamos que não poderíamos apreciar o que fizemos, mas serviu como uma boa publicidade para a cervejaria”.

6º BREWDOG END OF HISTORY 55%

Quando a BrewDog criou este rótulo, tinha por objetivo ser a cerveja mais forte do mundo. Como sabemos, o rótulo ficou temporariamente com o título em mãos. A bebida causou polêmica pelo altíssimo preço e pela sua inusitada ‘garrafa’, envolvida por animais empalhados. Apenas 12 exemplares foram fabricados e a cerveja se encontra fora de circulação. Devido à edição extremamente limitada, as garrafas foram vendidas por 700 libras.

5º SCHORSCHBRÄU SCHORSCHBOCK 57% EISBOCK

A cervejaria alemã é conhecida por fazer cervejas de alto teor alcoólico e era a forte concorrente da BrewDog até chegar a Koelschip na parada. Esta é uma edição limitada e a mais forte da marca. Uma garrafa de 330 ml custa US$ 273. Foi lançada em Outubro de 2011.

4º KOELSCHIP START THE FUTURE 60% EISBOCK

Essa bebida é da mesma cervejaria que detém o título da cerveja mais forte do mundo. Ela foi criada para ultrapassar a BrewDog End Of History, que por sua vez, tinha tomado o lugar da Koelschip Obilix.

3º BREWMEISTER ARMAGEDDON 65% EISBOCK

A cerveja com 65% de teor alcoólico contém ingredientes que incluem malte cristal, trigo, aveia em flocos e, claro, 100% de água escocesa. Ela é congelada para retirar o concentrado alcoólico. Apesar do volume de álcool, a cerveja tem muito sabor: maltada, lupulada, levemente adocicada e com sabor da levedura durante a fermentação. Tenha cuidado, somente o cheiro é o suficiente para deixá-lo embriagado! Foi lançada em Outubro de 2012.

2º BREWMEISTER SNAKE VENOM 67.5% BARLEY WINE

Os escoceses até conseguiram bater o próprio recorde, que era da Armageddon (65%), mas não alcançaram o título de cerveja mais alcoólica do mundo. A bebida conta com ingredientes especiais para atingir um volume tão alto de álcool, incluindo turfa de malte defumada e dois tipos de fermento: levedura de cerveja e levedura de champanhe. Na etiqueta amarela vem um aviso, “Esta cerveja é forte. Não exceda 35ml por dose.”

1º KOELSCHIP MYSTERY OF BEER 70%

A holandesa Brouwerij ‘t Koelschip é a responsável por produzir a cerveja mais alcoólica do mundo. Depois de uma intensa disputa, o objetivo era dar uma resposta à cerveja escocesa Armaggedon, de 65% de álcool. Para chegar a este percentual alcoólico, a cerveja aposta em uma receita com muito lúpulo e tem álcool adicionado na sua formulação. O líquido é congelado e a parte com maior concentração de álcool é selecionada e adicionada mais álcool, posteriormente. O aroma alcoólico é muito presente. De acordo com um dos donos da cervejaria, o máximo teor alcoólico que uma cerveja poderá chegar é de 80%. Mesmo assim, este é um processo muito difícil e que levará tempo até ser ultrapassado.


Ufa…

E mais uma curiosidade: Existe um festival internacional de cervejas extremas que ocorre todo ano em Boston (deve haver mais, mas esse é o maior e mais importante), nos Estados Unidos.

Em sua 14ª edição, o Extreme Beer Fest ocorreu em fevereiro de 2017, e teve como lema a frase “Não aceitamos imitações. Não aceitamos limitações”.

Sim, o Brasil participou, mas com apenas uma cervejaria, a 2Cabeças, que apresentou a Black Caipirinha (projeto em andamento), a Maracujipa e a Pink Lemonade (o que esses dois últimos rótulos têm de extremos eu não sei).

Bem, fica a dica pra você empunhar aquele seu copo mais radical, cheio de spikes, e servir-se da cerveja mais bizarra ou alcoólica que você conseguir encontrar!

Daí você me conta sobre ela quando a ressaca passar, ok?

Cheers!

This Post Has 2 Comments

  1. Jorge Barreto

    Gostei muito dessa matéria. Estou lendo por curiosidade todo que encontro, por estar interessado em produzir cerveja e pequena escala mas, ainda preciso estudar muito.
    Mas pelos meus conhecimentos em química e física,conheço processos usados em laboratórios que é possível uma eficiência muito maior que congelamento. Esse seria apenas o primeiro passo para ter o concentrado. Bem possível consiga deixar só o extrato com o álcool. Já imaginou criar uma cerveja que irá evaporar do copo em minutos? Ela não precisaria sair da geladeira. Iria gelar por si só na evaporação. kkkkkkk
    Taí. Quando minha microcervejaria estiver montada, vou tentar. Ai te chamo, vou precisar de cobaia pra beber. kkkkkk

    1. Marta Ibanez

      Que legal, Jorge! Quero ver que bicho que vai dar. Topo ser a cobaia! Já posso chamar o Uber? rs

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